Robert Zoellick diz que questões envolvendo a crise na zona da euro são mais preocupantes que o rebaixamento da nota dos EUA
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou neste sábado para um momento "novo e mais perigoso" para a economia global, no qual os países desenvolvidos possuem espaço menor de manobra diante da crise de dívida que atinge a Europa.
Zoellick disse que as questões envolvendo a crise soberana da zona do euro são mais preocupantes do que os problemas de "médio e longo prazo" que levaram a agência de classificação de risco Standard & Poor's a rebaixar a nota de crédito dos EUA na semana passada.
"Estamos nos primeiros estágios de uma nova e diferente tempestade, não é o mesmo de 2008", disse o representante do Banco Mundial.
"Nas últimas semanas o mundo moveu-se de uma problemática recuperação de diferentes
velocidades, com os mercados emergentes e poucas economias como a Austrália apresentando bom crescimento e os mercados desenvolvidos se debatendo - para uma nova e mais perigosa fase", disse em entrevista ao jornal "Weekend Australian". Zoellick observou que o nível de endividamento das pessoas é menor atualmente do que na crise do crédito de 2007/2008 e que agora também não há o fator surpresa, mas destacou que o espaço de manobra é muito menor. "A maior parte dos países desenvolvidos já utilizou o espaço fiscal disponível e a política monetária está o mais flexível possível", ressaltou.
Reformas necessárias
Segundo Zoellick, a estrutura da zona do euro "pode passar a ser o mais importante" desafio do mundo. Para Zoellick, as atitudes tomadas pela União Europeia até o momento estão aquém do necessário. "A lição de 2008 foi a de que quanto mais se demora para agir, mais é preciso fazer", afirmou Zoellick, questionando ainda quando os países financeiramente problemáticos da Europa serão capazes de "pelo menos se anteciparem aos problemas que já os atingiram".
Ele pediu ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, que não volte atrás das medidas de austeridade anunciadas em consequência dos protestos recentes, afirmando que os cortes de gastos são "realmente necessários".
Os mercados despencaram nesta semana com rumores de que a classificação de risco da França seria rebaixada em consequência da crise de dívida soberana dos países periféricos da Europa, que se iniciou na Grécia no ano passado e já levou Portugal e a Irlanda a recorrerem ao suporte financeiro externo.
Nas últimas semanas, o foco das preocupações migrou para Espanha e Itália, obrigando o governo de ambos países a acelerar programas de ajuste fiscal. A crise se acentuou com conclusões de que a França poderia perder sua nota máxima AAA, de capacidade de pagamento de suas dívidas, levando o também o país a aprofundar as medidas de contenção de gastos.
Os investidores questionam se a França e a Alemanha, as duas maiores economias da zona do euro, podem continuar subscrevendo a dívida de outros países da zona do euro sem perderem suas notas máximas de crédito AAA e sem serem também vítimas da crise.
Zoellick disse que o equilíbrio de poder, influência e peso das nações está "mudando rapidamente, pelos padrões históricos", para as economias em desenvolvimento, lideradas pela China, mas descreveu o país como um "acionista relutante" no sistema global.
O presidente do Banco Mundial disse que a China enfrenta uma série de questionamentos relacionados à sua política doméstica - como manter a industrialização "verde", as reformas do sistema financeiro e o equilíbrio entre as empresas estatais e as privadas. Permitir que o yuan se valorize poderia ajudar a conter a inflação, mas a apreciação da moeda chinesa reduz, ao mesmo tempo, o valor das exportações do país, uma questão politicamente sensível às lideranças.
Pequim também gostaria de aumentar a proteção social, mas não quer o modelo de bem-estar social europeu, observou Zoellick. "Eles me dizem...é muito caro". As informações são da Dow Jones.
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