terça-feira, 28 de junho de 2011

Crise grega pode ser pior que a quebra do Lehman Brothers

   Se o Parlamento grego rejeitar a aprovação das medidas, mundo estará perto demais de um desastre financeiro como o dos anos 1930
   A decisão dos ministros das Finanças europeus, de condicionar o empréstimo emergencial de 12 bilhões de euros à aprovação de medidas de austeridade e privatizações pelo Parlamento da Grécia, seria racional e crível sob o argumento de que a Grécia teria mais a perder com uma moratória do que a zona do euro em si.
  Ou, para dizê-lo de outra forma, ameaças só valem a pena se os que as fazem podem de fato levá-las a cabo.
  Mas, caso o premiê grego, George Papandreou – sob extrema pressão da oposição popular e parlamentar –, não consiga obter apoio, nos próximos dias, para seu renovado gabinete e para o programa de redução de déficit exigido por França, Alemanha e outros, será que os governos da zona do euro vão simplesmente observar a Grécia dizer a seus credores que eles não receberão seu dinheiro?
  A questão é que essa hipótese, se concretizada, teria consequências potencialmente catastróficas para credores não apenas dos 240 bilhões de euros da dívida soberana grega, mas também para
credores de centenas de bilhões de euros da dívida comercial grega e de outras dezenas de bilhões de euros de contratos de derivativos relacionados à dívida grega.
Um calote também aumentaria o risco de empréstimo para a Irlanda e Portugal, desencadeando amplas perdas adicionais de centenas de bilhões de euros em empréstimos a esses países e seus respectivos bancos.
  E, com a indefinição quanto à sustentação de longo prazo das dívidas da Espanha e da Itália, os governos desses países talvez sejam forçados a pagar mais para obter dinheiro emprestado.
  A moratória grega também afetaria balanços bancários por toda a Europa: bancos gregos, portugueses e irlandeses provavelmente só sobreviveriam se fossem nacionalizados; e bancos da França, da Alemanha e até mesmo nos EUA sofreriam perdas que deixariam seus capitais em níveis perigosamente baixos.
  Além disso, o Banco Central Europeu (BCE), maior credor da dívida soberana de Grécia, Portugal e Irlanda, precisaria de uma forte injeção de apoio financeiro vindo de países da zona do euro. Uma humilhação pública desse tipo levaria anos para abandonar a reputação do BCE.
  Será que os ministros das Finanças da Alemanha, da França, da Holanda e demais países realmente querem isso?
  Claro que isso tampouco seria o fim da catástrofe em potencial. Há um crescente movimento popular na Grécia defendendo a saída do país da zona do euro.
Acontece que a saída de um país-membro da zona e sua adoção de uma moeda independente faria com que aumentasse muito o custo de empréstimos tomados pelos países que permanecessem com o euro (salvo Alemanha, Luxemburgo e Holanda).
Isso porque se criaria a ideia de que a permanência no euro não é mais algo vitalício. Então, qualquer um que emprestasse para a Espanha, a Itália ou até mesmo a França teria que ser compensado por esse risco – o risco de que dívidas inicialmente inseridas na zona do euro poderiam eventualmente estar ligadas mais diretamente à saúde de uma única economia.
  No atual estágio frágil de recuperação econômica da região, um aumento nos custos dos empréstimos seria um grande revés.
  E não percamos tempo considerando os complexos litígios internacionais que estariam envolvidos em uma eventual decisão unilateral da Grécia de transformar dívidas cotadas em euro em moeda local.
   Sendo assim, chegamos a duas conclusões.
  Primeiro, que, quando as pessoas falam da Grécia como o “momento Lehman” da Europa (em referência ao banco americano Lehman Brothers, cujo colapso, em 2008, provocou pânico nos mercados e perdas para credores), elas estão erradas.
  Uma moratória grega feita de forma desordenada provavelmente seria pior para a economia mundial do que a quebra do Lehman – ainda que, no caso dos bancos, eles estejam mais preparados para absorver perdas do que estavam em 2008.
  Em segundo lugar, a decisão dos ministros das Finanças europeus, de condicionar a entrega de uma parcela de 12 bilhões de euros (cerca de R$ 27,4 bilhões) de ajuda à Grécia à adoção pelo país de mais cortes de gastos, não deverá ser capaz de amansar os opositores das medidas de austeridade no país.
  Ao mesmo tempo, se o Parlamento grego rejeitar a aprovação dessas medidas, estaremos perto demais de um desastre financeiro ao estilo do ocorrido nos anos 1930.
IG 

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